sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Sexo: não nascemos sabendo



Entre os adolescentes existe muita vergonha e mitos quando se fala sobre sexo. É até estranho, mas pelo menos entre os garotos existe a crença de que a atividade sexual, por ser instintiva, já se considera sabida. Pior, é nessa etapa do desenvolvimento que os mitos se consolidam e produzem o que têm de mais lesivo em termos de sexualidade: a noção de incompetência ou de insuficiência. As garotas também sofrem com os tabus de que devem transar, de que não devem transar, de que têm de ter orgasmo, de que têm de se masturbar, etc. Esquece-se que cada um ou uma tem um desenvolvimento próprio, recheado de dúvidas e questões inerentes à auto-imagem, competência, adequação e maturidade afetiva. O que era para ser uma descoberta legal, passa a se tornar uma batalha a ser ganha, onde o outro é só um mero instrumento de comprovação de desejo, mitos, tabus e superação de fragilidades. Poder ter informações seguras e formação consistente nessa área e nesse momento da vida é fundamental se queremos formar indivíduos saudáveis física e mentalmente. Para isso se faz necessária uma educação sexual consistente, respeitosa e sem preconceitos. Usar uma foto, um objeto, um trecho de filme ou mesmo exemplos da vida cotidiana é muito útil e faz da sexualidade humana algo comum, genérico, sem grandes alardes e medos. Para isso a formação de professores é fundamental. Professores sem preconceitos e julgamento de valores são capazes de desenvolver questionamentos maduros e ricos entre os adolescentes. O importante não é passar falsos moralismos ou conceitos restritos, mas sim desenvolver a capacidade de questionar e propor possibilidades reais e tranqüilas, que ao invés de conter, possa impulsionar o amadurecimento de competências, capacidades e relações. Sexo, muito além do ato, é uma forma gostosa e social de se relacionar afetivamente com o outro. Onde um pode completar outro e é o espaço de trocas.
Adolescência é esse mesmo momento de descobertas e trocas; crescimento e incorporação; fase de desfazer restrições e manifestar a liberdade de ser e agir conforme as regras pessoais e sociais amplas. Sem medo, receio ou inibição. Viver quem se é!

sábado, 18 de outubro de 2008

Sexualidade Feminina


Parece tão simples, mas não é! Os homens sempre tentaram descobrir o que é que as mulheres querem na vida, especialmente no tocante ao sexo. Diferentemente dos homens é muito difícil para uma mulher separar sexo de afeto. Não que não existam. Essas são aquelas que povoam as fantasias masculinas e que se tornam poderosas. A mulher padrão, essa que se apaixona e se entrega tem desejos que por vezes não consegue revelar ou até mesmo desconhece. Nossa sociedade e cultura apavoram as mulheres quando o assunto é desejo e prazer. Mesmo nós homens, temos dificuldades em discutir ou conversar com nossas companheiras, filhas, sobrinhas, enfim, nossas mulheres, sobre isso. Existe o mito de que é fazendo e não conversando que as coisas acontecem. É verdade, pena que para pior e não melhor.
Nesses tempos de consumo, causa estranheza a forma como a sexualidade feminina se apresenta. Diferente da masculina, que é mostrada, forte e penetrante, a feminina é receptiva, íntima, acolhedora e vibrante. O prazer feminino está centrado no equivalente peniano masculino, o clitóris. Diferente do pênis, ele deve ser tocado com cuidado (não muito...) e estimulado com firmeza e suavidade; com movimentos ritmos e que aumentam de intensidade. Cada mulher sabe seu ritmo. E como é difícil ela revelá-lo para o parceiro. É a descoberta de um segredo, um tesouro. Seria tão mais simples se elas já abrissem o jogo e mostrassem como deve ser feito.
E a coisa só piora, pois com a intimidade e a freqüência, o prazer clitoriano pode se tornar vaginal. E agora, José?
Ter prazer com uma mulher é um processo cauteloso, também de entrega. Muitas ainda crêem que são anormais por terem facilidade orgásmica, outras por não terem desejo. O Desejo feminino é mediado por tantas variáveis. Diferente do homem, que biologicamente está sempre disponível, a mulher precisa de ambiente, clima. Esse intimismo dá trabalho e faz com que a mulher seja única.
Elas valorizam “pegada”. O homem tem que ser atencioso, mas não bonzinho, bobo. Deve ter opinião própria, sem ser cafajeste. Sedutor sem se preocupar em propaganda. Que faça com que ela se sinta única, não importando que ele tenha outras; ela é especial!
O sexo para as mulheres não se resume no ato e na biologia, mas no sentido maior dele. Não é à toa que na “Epopéia de Gilgamesh”, livro épico mesopotâmico, seu amigo Enkidu se torna homem de verdade e deixa de ser um animal quando tem pela primeira vez relação sexual com uma mulher, uma sacerdotisa.
As mulheres têm o poder de fazer do ato sexual algo sagrado e transformador para os homens. Mas para tanto eles precisam estar abertos para isso. Não é se deixar dominar por uma mulher, mas fazer o seu papel junto dela. Facilitar o orgasmo, ter orgasmo, dar prazer, receber prazer e gostar de mulher.
O interessante dessa história da sexualidade feminina é que muitas nem sabem dela. Parece que o interesse maior é masculino. E é verdade! Aquelas, que se conhecem e sabem buscar e ter prazer, podem manipular qualquer homem e nós temos medo disso. Por isso, o controle que buscamos estabelecer sobre o sexo e o prazer delas. Só que esquecemos que elas são mais inteligentes nesse aspecto. Muitas fazem de conta que aceitam e vão dominando e fazendo o que querem. Isso só confirma a máxima de que a última palavra é sempre da mulher.
Está mais do que na hora de reconhecermos que o sexo forte é o feminino e que os prazeres são diferentes e se queremos compartilhar, só poderemos fazer isso no dia-a-dia, fazendo falando brincando e descobrindo o sexo e o outro. Taí! Talvez devêssemos fazer do sexo uma brincadeira e não algo como se fosse batalha de vida ou de morte. Sexo é vida, pode produzir vida, produz sempre prazer. Como as mulheres saudáveis, está na hora de buscarmos esse prazer em conjunto, valorizando as diferenças e incluindo-as na atividade sexual.

domingo, 24 de agosto de 2008

Sexualidade Masculina: desejo “versus” afeto.



Existe uma grande controvérsia social, familiar, de boteco, de que os homens apresentam desejo sexual mais intenso que as mulheres. Se formos analisar na superfície dos fatos e na atualidade, tal afirmação soa correta. Biologicamente, por termos mais hormônio testosterona circulante, nosso desejo tende a ser maior, mas em linhas gerais, talvez o que pese mesmo é o fator social/cultural que tanto pesa na sexualidade feminina. Desejos, todos têm, sejamos homens, mulheres, heterossexuais, homossexuais, transexuais. O que fazemos com ele é que se torna interessante.

Culturalmente, para os homens é muito fácil separar desejo de afeto; tesão de amor. Talvez isso seja muito difícil de uma mulher entender e pior ainda, aceitar! Já para as mulheres, é muito comum que desejo e afeto sigam juntos. Nos tempos atuais isso tem se modificado um tanto, mas ainda é o comportamento mais característico entre as mulheres. E o fator “físico” sempre pesa mais entre os homens que entre elas no quesito atração e desejo.
Isso tem uma importância no que entendemos por relações monogâmicas e exclusivas. O permanente desejo expresso para uma única mulher não é o comum e nem o mais natural. Se formos nos basear na teoria da evolução, ou mesmo na Psicologia Evolutiva, não faz sentido algum um homem se manter “preso” sexual e afetivamente em uma só mulher. Muitos driblam essa restrição social, que teve e ainda tem uma relativa importância, por meio de sexo casual ou mesmo de masturbação.
Muitas mulheres têm dificuldade em compreender e aceitar essa realidade. Isso não quer dizer que esteja tudo liberado e que está tudo explicado e entendido. Estamos falando de relações afetivas e familiares, que nunca são simples nem de fácil acomodação. Mas essa é uma realidade com a qual devemos lidar e não fazer vista grossa. Muitos casais se mantêm com relações extraconjugais. Os homens muitas vezes com relações sem vínculos afetivos importantes. Já as mulheres com relações que tendiam para o afeto, mas que nos últimos anos se aproximam do padrão dito masculino.
Acho que o mais importante é que não existe o certo nem o errado em termos de relação afetiva e sexual. Cada casal irá encontrar seu ponto de equilíbrio e satisfação.
Cabe apenas ressaltar: homens caracteristicamente ainda apresentam desejo aumentado frente às mulheres. Isso não diz que a “traição” está permitida para eles, mas sim que é algo que tanto eles quanto elas devem levar em consideração.
Ah, vale a pena lembrar que a maior prova de amor de uma mulher para seu homem não é o cuidado ou atenção apenas, mas sim a demonstração clara e objetiva de que tem desejo sexual por ele e o acha o maior e melhor amante do mundo.
Nós homens somos muito fáceis de manipular.....
Quanto ao afeto, quando um homem expressa e sente de verdade amor por uma mulher, ele é capaz de fazer muitas coisas, inclusive conter seus desejos. Com isso não quero afirmar que se um homem ama ele não “pula a cerca”; existem muitas maneiras dele resolver seu tesão. Seja se masturbando ou tendo sexo avulso, sem importância afetiva. Outros, talvez diferentes, conseguem se manter fixos e fiéis a sua amada. São poucos, são raros, mas existem. O que não dá é que as mulheres esperem isso de todos os homens!

Quanto ao desejo sexual feminino, essa é uma outra história!!! Complexa.......

quarta-feira, 30 de julho de 2008

SEXO É MUITO COMPLEXO

Sexo, que deveria ser algo tranqüilo e afetivo, quase sempre é um problema na vida de um ser humano em alguma fase da vida. Para ser bem sincero, sexo

Mas pensem comigo...
Tudo começa com o desenvolvimento embrionário a partir de genes e cromossomos. Esse desenvolvimento pode ser alterado em qualquer fase, o que pode originar um ser humano com genitália ambígua, um intersexo, antigamente chamado de pseudo-hermafrodita ou hermafrodita. Se tudo correu bem e a criança nasceu sem anomalia alguma em sua genitália, começa o processo de identidade sexual ou de gênero, que nada mais é do que a certeza psicológica de ser homem ou mulher. Acredita-se, hoje em dia, que isso começa na formação do feto, por fatores biológicos e se concretiza na primeira infância por fatores psicológicos e de relacionamento com a mãe e o pai.
Definida a identidade, inicia-se, em paralelo, a definição da orientação sexual, que nada mais é do que a clareza que se tem de se ter desejo por alguém do mesmo sexo (homossexualidade), do
outro (heterossexualidade) ou dos dois (bissexualidade).
A coisa não acaba por aqui...
Existem pessoas que apesar de tudo isso definido, têm “apetites”, desejos, tesões específicos, chamados de parafilias. Ter prazer em sofrer, infligir sofrimento, observar pessoas em atividade sexual sem que elas saibam, em crianças, etc, são alguns dos exemplos possíveis (a variedade é enorme...).
Depois existem ainda os problemas no desempenho sexual propriamente dito, que nada mais são do que a disfunção erétil, a antigamente chamada de ejaculação precoce, perda de desejo sexual, vaginismo, dispareunia, etc.
Se ainda não bastasse, restam as crenças culturais que só fazem atrapalhar a vida sexual das pessoas. Questões como tamanho do pênis, sexo com afeto ou sem, querer gozar juntos, valores morais e religiosos ligados à masturbação, etc.
Por tudo exposto, acho que é possível perceber que ter uma sexualidade tranqüila exige de qualquer um, maturidade e paz de espírito, além de sorte, dedicação e uma formação anatômica bem feita. A questão biológica é imponderável, mas as outras necessitam nosso empenho e desenvolvimento pessoal para desprezar preconceitos e valores obsoletos. Muito da sexualidade não é opção, não é escolha, um outro tanto é se livrar das crenças e valores populares e morais. E não esquecer que sexo solitário é masturbatório; sexo a dois é aquele que respeita desejos e disponibilidades específicas. E aí, não tem certo ou errado, só o possível para cada um dos componentes da transa.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

A HOMOSSEXUALIDADE E NÓS

A questão da diferença está mais do que impressa na sexualidade humana. Anatomicamente somos distintos como machos e fêmeas e mesmo dentro dessas categorias existem diferenças individuais. As anatômicas nos causam desconforto, seja por que implicam beleza, masculinidade, feminilidade ou mesmo fantasias sexuais (tamanho de mamas, de pênis, musculatura, gordura corporal, etc.). Tendemos a ver, como nossos antepassados que “perfeição” física e beleza é um dom que veio de Deus e que se traduz em bondade, confiança e bom caráter. Nada mais irreal. O mesmo se dá com a orientação sexual de cada um de nós. Pode parecer incrível, mas não optamos, escolhemos se vamos ter desejo ou tesão por homem, mulher ou ambos. Não é uma questão de consciência ou de moral; é uma questão de desejo e esse não depende da vontade e sim de algo ainda indefinível. Por isso a Medicina e a Psicologia aboliram o termo opção quando se fala de homossexualidade. Não é, na verdade, uma opção e sim uma falta de opção, como muitos homossexuais falam.
Também a homossexualidade não implica em marcas de caráter de maneira geral. Significa apenas ter desejo por alguém do mesmo sexo e não bondade, honestidade, chatice, agressividade, etc. Existem homossexuais bons, maus, honestos, desonestos, chatos, legais, como qualquer outra pessoa, seja ela heterossexual, bissexual, transexual, ou sei lá mais o quê. Quem a pessoa é ou se torna tem relação com as heranças genéticas, a educação, as vivências pessoais e afetivas. A homossexualidade parece ter forte herança genética, mas não só. Ainda não podemos afirmar causa ou causas, mas o importante é saber que não é doença e muito menos sem-vergonhice. Se formos pesquisar de verdade, à nossa volta existem muito mais homossexuais do que sabemos e isso não muda nada em nossas vidas. São pessoas como outras quaisquer, vivendo, amando, se frustrando e fazendo o melhor para si e para o mundo. Não vale à pena romantizar a homossexualidade também. Não são melhores nem piores. Possivelmente sofrem mais por conta da diferença e muitas vezes da exclusão que sofrem socialmente ou que se impõem.
Já é tão difícil viver de maneira íntegra, responsável e gentil com os outros, por que buscar na diferença a exclusão de pessoas que não conhecemos ou que se conhecemos, a orientação sexual (esse é o termo técnico), é apenas mais uma característica dela e talvez, na maioria dos casos, a menos importante?
Quem se preocupa menos com sexualidade alheia tem mais chances de se ocupar de sua própria sexualidade e aí sim se realizar nela!

segunda-feira, 9 de junho de 2008

A SEXUALIDADE E NÓS

por Alexandre Saadeh*

Dia destes uma paciente me perguntou em alto e bom som por que o sexo, que deveria ser uma coisa tranqüila, não é?

Por vários motivos. Penso que o mais importante deles é o fato de apesar de ser uma atividade fisiológica e de base biológica, ele é regido por valores culturais, religiosos e morais que o tornam um fenômeno único e de vital importância em nosso dia-a-dia desde que nascemos, pois é a forma que adquire o nosso prazer. A Psicanálise mesmo nos diz que qualquer prazer, em nosso desenvolvimento, ganha um cunho sexual.
A Medicina faz um esforço enorme para nos mostrar que a sexualidade tem um caminho “normal”. Isso cria o mito de que existiria um sexo, ou expressão sexual, considerada normal, adequada. Aliás, essa é uma pergunta que não canso de ouvir, se o paciente é normal por fazer isso, aquilo, dessa forma ou daquela. A Organização Mundial de Saúde nos diz que é normal a sexualidade exercida em plenitude entre dois adultos humanos vivos. Agora o que eles fazem entre si só é da conta deles e, portanto, normal para eles. Excitar-se com pés, gostar de sexo oral, preferir mulheres ou homens gordos, tudo isso só poderia ser considerado “anormal” se impedisse a vivência de plenitude do indivíduo ou o fizesse sofrer. O grande problema é que nossa moral, cultura e religiões penalizam, culpabilizam e condenam muitas formas de expressão da sexualidade por pura tradição, ignorância e preconceito. Muitas dessas expressões sexuais, como por exemplo, a homossexualidade, fantasias específicas, gostos particulares, não dependem de uma decisão racional, não são opções de alguém. Aliás, são falta de opção, pois há um determinismo biológico/psíquico em tudo isso.
Muitos estudos recentes demonstram que nosso cérebro, desde a infância, registra e busca replicar as experiências prazerosas, qualquer que seja. Os centros do prazer e da gratificação são próximos e a vivência sexual é capaz de produzir uma marca que voltará a ser buscada quando de uma nova experiência sexual.
Com isso tudo, cabe a pergunta, o que é normal em relação ao sexo? O quer a sociedade determina, o que dá prazer ao indivíduo ou o que excita a díade? Talvez tudo, possivelmente uma dessas opções. O que não podemos é julgar alguém por seu comportamento sexual. Ele só é uma parte do indivíduo, talvez a menos importante na convivência comunitária. Algo que é muito particular e específico. Delicado! Pois se assim não fosse, nossa vida sexual seria um livro aberto, o que não acontece. Quando você ouve alguém fazendo “propaganda” de sua vida sexual, desconfie, a grande maioria é enganosa. Sexo serve para nos dar prazer e aprender a conviver com as diferenças presentes em outros seres humanos. Nós transformamos isso num critério de valor, qualitativo, que diz se alguém é melhor ou pior. Acho importante ter em mente que a sexualidade madura é fruto de nossa evolução embriológica, nossas experiências vitais com prazer que são únicas e a construção pessoal de valores. Ou seja, é complexa, fácil de se complicar e nos tornar culpado. E isso acaba pesando em nosso cotidiano, fazendo do sexo não mais um “lugar” de relaxamento, exposição e aceitação do outro e de nós mesmos, mas sim um “lugar” onde julgamos e somos julgados; selecionamos e somos selecionados. Para quê?

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* Psiquiatra, Professor e Doutor em Sexologia